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30/08/2022
A estimulação cardíaca artificial nasceu no final dos anos 50, com o objetivo primordial de eliminar os sintomas e reduzir a mortalidade dos pacientes com bloqueios atrioventriculares (BAV) avançados. Essa finalidade foi conseguida já nas primeiras gerações de marcapassos, que inicialmente eram assincrônicos (VOO) e depois sincrônicos ou de demanda (VVI).
A partir daí, enorme avanço tecnológico ocorreu na fabricação dos geradores, com a utilização de microcircuitos integrados (alta capacidade de programabilidade e baixo consumo), baterias de lítio (grande durabilidade), fechamento hermético (aumento de segurança), multiprogramabilidade (diversidade de recursos), telemetria bidirecional (segurança e confiabilidade) sensores biológicos (possibilidade de alteração de freqüência). A evolução também foi observada na tecnologia dos cabos-eletrodos, desenvolvidos com menor calibre, maior flexibilidade, maior resistência, melhor histo-compatibilidade e fácil implantação por via venosa, tanto em câmaras atriais como ventriculares.
A associação do desenvolvimento da tecnologia de fabricação e de implante do marcapasso ao maior conhecimento eletrofisiopatológico dos distúrbios de condução cardíaca permitiu um progresso consistente na estimulação cardíaca artificial, extremamente diversificada no seu modo de funcionamento, com alta confiabilidade, segurança e cada vez mais fisiológica.
Ampliado o campo de ação dos marcapassos e diversificadas as suas indicações e modos de operação, as Sociedades que congregam os especialistas da área passaram a revisar periodicamente, as recomendações para a sua utilização, dadas as constantes inovações. Em nível nacional, o Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial (Deca), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV) emitiu em 1987 as "Diretrizes para Implante de Marcapasso Cardíaco Permanente". Em 1990, em conjunto com o Departamento de Arritmia e Eletrofisiologia Clínica (Daec), tal trabalho, revisto e atualizado, foi publicado sob o título: "Indicações para Implante de Marcapasso Cardíaco Permanente". Cinco anos após, outra publicação do Deca modernizou as diretrizes para utilização da estimulação cardíaca artificial: "Consenso para o Implante de Marcapasso Cardíaco Permanente e Cardioversor-Desfibrilador Implantável - 1995".
A presente atualização foi motivada pelo extraordinário e rápido desenvolvimento da estimulação cardíaca artificial no tratamento das bradi e taquiarritmias, como também na terapêutica das miocardiopatias hipertróficas e dilatadas, correção dos distúrbios hemodinâmicos, ressincronização de câmaras cardíacas, prevenção de taquiarritmias e monitoração cardiovascular diagnóstica.
Para entender como funciona um marcapasso, é preciso saber como o coração bate normalmente e como ele bombeia sangue pelo seu corpo.
O coração tem seu próprio “marcapasso natural”, chamado nó sinusal ou nó sinoatrial. Ele envia impulsos elétricos regulares, que viajam através de “caminhos elétricos” dentro do coração fazendo com que os ventrículos (as duas câmaras inferiores do coração) façam o bombeamento do sangue do coração para os pulmões e para o resto do corpo, fazendo o sangue circular por todo o organismo.
Um coração adulto normal tem um batimento cardíaco regular, que é geralmente entre 60 e 100 bpm (batimentos por minuto) enquanto está em repouso. Quando em exercício, este número pode subir a uma taxa maior, dependendo da idade e condicionamento físico.
Se houver um problema com o sistema elétrico normal do seu coração e alguma alteração com as suas batidas cardíacas, você pode precisar de um implante de marcapasso por uma das seguintes razões:
– Doença do nó sinusal: quando o nó sinusal (o marcapasso natural do coração) parar de funcionar corretamente.
– Bloqueio cardíaco: (também chamado de bloqueio atrioventicular ou bloqueio cardíaco AV) quando há um problema com o nó AV (caminho elétrico) e existe um atraso ou um bloqueio do impulso elétrico entre os átrios e os ventrículos.
– Fibrilação atrial: é um ritmo cardíaco irregular que se origina nos átrios (as duas câmaras cardíacas superiores), e pode ser muito rápido ou muito lento. Se ele faz o seu coração bater muito lentamente você pode precisar de um marcapasso.
O marcapasso cardíaco é um pequeno aparelho colocado cirurgicamente junto ao coração, para ajudar a monitorar e controlar o ritmo dos batimentos cardíacos nos casos de arritmias, especialmente quando o coração bate de forma muito lenta, evitando que os batimentos fiquem abaixo dos valores normais, que varia entre 60 e 100 batimentos por minuto em repouso.
Dessa forma, é possível evitar que o coração tenha dificuldade para bombear sangue para o corpo, o que causa sintomas como cansaço excessivo ou dificuldade para respirar, que podem colocar a vida em risco.
O marcapasso pode ser provisório, quando colocado apenas por um período de tempo para tratar alteração cardíaca, ou pode ser definitivo, quando é colocado para controlar problemas a longo prazo como a doença do nó sinusal.
O marcapasso monitora o coração continuamente e identifica batimentos irregulares, lentos ou interrompidos, enviando um estímulo elétrico ao coração e regularizando os batimentos.
Esse aparelho possui duas partes, um gerador que contém a bateria e as informações para controlar os batimentos cardíacos, e os condutores, que são fios que conectam o coração ao gerador e transmitem impulsos elétricos ao coração.
Algumas pessoas, especialmente nos casos de insuficiência cardíaca grave, podem precisar de um tipo especial de marcapasso, chamado marcapasso bicameral ou biventricular, que é composto por três partes, o gerador, os condutores e um programador que é uma espécie de computador externo usado para ajustar as configurações do marcapasso.
O marcapasso funciona a pilhas, que duram em média 5 a 15 anos, mas existem casos em que a sua duração é um pouco menor. Sempre que a pilha estiver próxima do fim deve-se trocá-la através de uma pequena cirurgia local.
Os principais tipos de marcapasso incluem:
- Marcapasso definitivo: é o marcapasso implantado de forma definitiva no peito da pessoa sobre a pele e os fios condutores são colocados no átrio e no ventrículo do coração, através de cirurgia;
- Marcapasso transcutâneo ou transtorácico: possui 2 pás de eletrodos que são colocadas sobre a pele no tórax e no dorso da pessoa, conectadas a um desfibrilador, que é um equipamento que gera descargas elétricas, para fazer o coração voltar a bater, sendo usado em emergências médicas em casos de bradiarritmias ou bloqueios atrioventriculares, por exemplo;
- Marcapasso transvenoso: possui um cabo-eletrodo que é colocado dentro do ventrículo direito do coração, através de um corte feito na artéria jugular ou subclávia, e conectado em uma bateria externa. Esse tipo de marcapasso é indicado para emergências médicas no caso de bradicardias graves.
Os marcapassos utilizados apenas em emergências médicas, não são marcapassos definitivos, sendo usados de forma temporária.
A colocação do marcapasso é indicada pelo cardiologista quando a pessoa possui alguma doença que cause bradicardia, que é a diminuição dos batimentos cardíacos para menos de 40 batimentos por minuto, e incluem:
- Doença do nó sinusal;
- Bloqueio atrioventricular;
- Bloqueio bifascicular crônico;
- Síncope neurocardiogênica;
- Síndrome do seio carotídeo;
- Cardiomiopatia hipertrófica;
- Insuficiência cardíaca grave;
- Doença cardíaca congênita.
Além disso, o marcapasso também pode ser indicado pelo cardiologista após o infarto do miocárdio, transplante cardíaco, para detectar ou encerrar a taquicardia, ou para tratar alteração cardíaca causada pela overdose de medicamentos ou drogas.
Alguns cuidados são importantes para se preparar para a cirurgia como esclarecer com o cirurgião todas as dúvidas sobre a cirurgia e a recuperação, além de informar todos os medicamentos, vitaminas e suplementos nutricionais que toma com frequência, pois alguns podem afetar a recuperação, interferir na anestesia ou aumentar o risco de formação de coágulos ou de sangramento. Deve informar também se tem alguma alergia ou outro problema de saúde.
Além disso, é recomendado não fumar e nem consumir bebidas alcoólicas antes da cirurgia, tomar banho com o sabonete recomendado pelo médico, não aplicar hidratantes, loções, perfumes ou desodorante e retirar todas as jóias, piercing e lentes de contato antes da cirurgia.
É importante fazer o jejum que deve ser de pelo menos 4 horas, no horário programado pelo médico no dia anterior à cirurgia e tomar os medicamentos no dia da cirurgia apenas com um gole de água.
A cirurgia para colocação do marcapasso cardíaco é feita pelo cirurgião cardíaco e é simples e rápida, geralmente leva de uma ou duas horas.
Antes de iniciar a cirurgia, é administrado soro fisiológico na veia, pelo enfermeiro, para hidratar e administrar medicamentos e também para que seja feita a anestesia geral ou sedação leve.
Em seguida, é feito um pequeno corte perto do ombro para alcançar a veia subclávia e inserir um fio fino até que o mesmo atinja o ventrículo direito do coração, onde será colocado o eletrodo do marcapasso. A outra extremidade do fio é conectada ao gerador de impulsos elétricos do marcapasso que ficará sobre a pele próximo à clavícula no ombro.
Durante toda a cirurgia, o médico observa a inserção e a posição do marcapasso através do raio-x, para saber por onde está passando e para garantir que o marcapasso seja colocado no local correto.
Como é um procedimento simples, a pessoa já pode ir para casa no dia seguinte à cirurgia. No entanto, é importante que a pessoa com marcapasso faça repouso no primeiro mês após a cirurgia, além de fazer as consultas de retorno com o cardiologista, para avaliar o estado geral de saúde.
Além disso, são necessários cuidados especiais durante a recuperação e algumas mudanças nos hábitos de vida, como:
- Manter na carteira o cartão com as informações do marcapasso e dos contatos para emergências;
- Tomar os remédios nos horários certos conforme indicado pelo médico;
- Evitar movimentos bruscos envolvendo o braço do lado em foi colocado o marcapasso;
- Evitar praticar atividades físicas, dirigir ou fazer esforços como pular, carregar bebês no colo e levantar ou empurrar objetos pesados, por exemplo;
- Evitar usar o celular do mesmo lado em que está o marcapasso e nunca colocar o celular dentro do bolso da camisa ou da calça, por exemplo;
- Colocar aparelhos eletrônicos de música, rádio, controle remoto, televisão, torradeira, furadeira, barbeador ou cobertor elétrico, ou celular a uma distância de 15 cm do corpo;
- Avisar nas áreas de segurança como aeroporto ou bancos, sobre o marcapasso, para evitar passar pelo raio-X. É importante lembrar que o raio-X não interfere com o marcapasso, mas pode acusar a presença de metal no corpo, sendo ideal passar pela revista manual para evitar problemas com a fiscalização;
- Ficar a pelo menos 2 metros distante do micro-ondas, equipamentos de solda, transformadores de alta tensão ou geradores de energia;
- Evitar choques físicos e pancadas sobre o marcapasso;
- Evitar fazer exames ou procedimentos médicos como ressonância magnética, ablação por radiofrequência, radioterapia, litotripsia ou mapeamento eletro-anatômico, pois podem interferir no funcionamento do marcapasso.
Além disso, alguns instrumentos também estão contraindicados para esses pacientes, como o bisturi elétrico e o desfibrilador, devendo-se avisar a familiares e profissionais de saúde sobre o marcapasso, para que o aparelho seja desativado antes de qualquer procedimento que possa causar interferência.
As pessoas que possuem um marcapasso no peito podem ter uma vida normal, somente evitando grandes esforços nos primeiros 3 meses após a sua colocação, no entanto ao entrar numa academia de ginástica, sempre que for a uma consulta médica de qualquer especialidade ou se for fazer fisioterapia deve mencionar que possui o marcapasso, pois esse aparelho pode sofrer interferência na proximidade de algumas máquinas.
As principais complicações da cirurgia de colocação de marcapasso são infecção no local da cicatriz, sangramento ou hematoma no local em que foi feito o corte da pele.
É importante comunicar ao médico ou procurar o pronto socorro mais próximo caso a pessoa apresente febre acima de 37,5ºC, pele ou unhas com cor azulada, falta de ar ou dor no peito.
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